Independência ou morte
13/09/2021
Em 2021 estamos às portas de ver um 7 de setembro com importância que pode rivalizar com a data original. Como diria o poeta Caetano Veloso, “ou não”.
A pressão imposta por grupos ligados ao Centrão e que apoiam Bolsonaro para que instituições republicanas sejam fechadas e para que agentes públicos e políticos sejam presos sem o devido processo legal busca criar um clima retrô, anos 1960, favorável a uma ruptura do estado democrático.
Questões semânticas à parte, ainda que membros e apoiadores de Bolsonaro e do Centrão em redes sociais e aplicativos de mensagens estejam planejando um mega movimento dia 7 próximo, obviamente há um nefasto substrato de defesa de de ruptura institucional que não se pode admitir.
Uma geração que não entende os rigores de um regime ditatorial está sendo usada, vestindo-se com a maior força inimiga do conhecimento e do saber: a ilusão do conhecimento.
As redes sociais, aplicativos de mensagens, youtube e outros tais apresentam um volume absurdo de informação, de conteúdo. Mas não necessariamente de conhecimento.
Os saberes são adquiridos, formalmente ou por experiência, com o suor do rosto, com metodologia, com habitualidade. Com indicação de caminhos por alguém que já sabe, um professor, um mestre.
O volume de informações que a internet faculta não é, nem de longe, saber. Não são um ou dois vídeos no youtube que darão a uma pessoa conhecimento de sociologia ou sobre teoria política para lidar com macroeconomia.
E essa ignorância imersa na ilusão de conhecimento tem proliferado de tal forma que nas redes sociais vemos, com impressionante quantidade, pessoas dispondo-se a ensinar. Ensinar o ofício de mecânico, a arte de cultivar abelhas ou saberes de cunho intelectual duvidoso, como hipnólogo, couch, “constelações familiares” e qualquer coisa que se queira ensinar seguido do vocábulo, quase mágico, que indica aos ignorantes uma profundidade de conhecimento que não existe: “quântico”. “Couch quântico”. “Contabilidade quântica”. Pessoas ignorantes tornam-se, facilmente, ignorantes iludidos. Julgam-se repositório de saber e passam a dividir seu discutível conteúdo com quem menos ainda sabe.
Exatamente nesta onda está surfando um grupo de políticos do Centrão, como Bolsonaro, que usam o termo “direita” para parecer menos fisiológico, que usam termos como “pátria” para justificar sua conduta.
Misturando sistema econômico (direta, esquerda) com sistema político (democracia, ditadura, etc), passam a valer-se da notável ignorância de uns e preciso senso de oportunidade de outros para tentar causar uma ruptura constitucional.
“Intervenção militar constitucional”, para quem entende uma nesga de Direito, equivale a “água seca”, “fogo frio” ou “neve fervente”. As palavras são antagônicas entre si, e não representam nada. Em breve veremos “intervenção militar constitucional quântica”. Aí não vai faltar mais nada. Subam para as colinas!
A civilização foi um dos mais notáveis avanços da humanidade. Defender nossa jovem democracia deveria ser objetivo principal de todos os grupos políticos, econômicos e sociais do país.
Mas para quem só falta defender oração de pai nosso associada a aplicação de limonada, quântica e purgativa, na veia materna como forma de enfrentamento à Covid-19, falar de leis, de civilidade, de segurança jurídica, é como dar pérola a porcos. Aos demais, atenção. Em pé e à ordem.
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