O 7 de setembro que não acabou
12/10/2021
Após décadas sob a égide de um governo militar e com liberdades fundamentais inexistentes por conta do Ato Institucional número 5, vivemos tempos de reabertura democrática.
Após anos sob o látego de um processo inflacionário que corroía nossas economias e nosso dinheiro, mais do que dia a dia, minuto a minuto, vivemos sob o Plano Real o começo de uma estabilidade econômica que durou até agora.
Em um brasil analfabeto, Paulo Freire desenvolveu um método de alfabetização para adultos que permitiu a milhares de brasileiros aprender a ler, incluindo-os neste mundo moderno.
Um brasileiro, Oswaldo Cruz, médico sanitarista, foi fundamental para o enfrentamento à doenças epidêmicas e para o desenvolvimento das vacinas e da vacinação.
Tudo isso aconteceu em período de tempo muito curto, se pensarmos em termos de história da humanidade: pouco mais de 500 anos.
Mesmo assim, apesar de tudo isso, encontramos brasileiros que defendem uma revolução militar, com supressão de órgãos judiciários e de garantias constitucionais. Paradoxalmente, os críticos mais histriônicos das liberdades, que fazem uso da liberdade para se manifestar de forma crítica, defendem o fim destas liberdades.
E brasileiros vem defendendo uma política econômica que está causando um novo processo inflacionário após décadas de estabilidade econômica. Agora, neste governo, é quando os brasileiros menos consumiram carne vermelha nos últimos 26 anos.
Em um Brasil que viu gerações aprenderem a ler com Paulo Freire, que lê mas que - por motivos ainda não totalmente esclarecidos pela ciência - não consegue interpretar textos, milhares criticam Paulo Freire (sem sequer conhecer seu método ou saber qualquer fato a respeito de sua vida) e defendem, com o apoio do próprio presidente da república, o direito a espalhar notícias falsas.
Em um Brasil que desenvolveu vacinas e que conseguiu erradicar doenças com campanhas de vacinação, milhares de pessoas se colocam, sem qualquer razão lógica, contra vacinas. Recusam-se vacinar e trabalham para outros não se vacinem, em plena pandemia de Covid-19.
O que querem os brasileiros que foram às ruas no último 7 de setembro?
Vivemos dias de um progresso tecnológico nunca antes visto na história conhecida da humanidade.
Temos em mãos condições de nos comunicar com todo o mundo, sem figura de linguagem, e de receber comunicação de todo o mundo, salvo talvez os países comunistas como China e Coreia do Norte.
Ainda assim, mesmo assim, uma enorme quantidade de brasileiros refuta a ciência, refuta a lógica, se coloca contra nomes de ideias ou conceitos nominais de ideais que sequer compreendem. Pedem um governo militar, sem liberdades.
Se colocam contra vacinas e contra a vacinação, repise-se, em plena pandemia.
Mesmo com fatos claramente indicando uma realidade, insistem em defender, de forma absurda, mentiras, ilusões e fake news sem qualquer nexo com a realidade objetiva.
Assistir Cristãos confessos odiando outros e expressando esse ódio em nome de Cristo é um episódio particularmente bizarro de tudo isso. O 7 de setembro de 2021 não acabou. Somente mostrou um problema de solução tão complexa quanto a compreensão de suas causas.
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