SÃO JOSÉ DO RIO PARDO E REGIÃO – ANO 36



Para pobres: escolas cívico-militares e prisões

11/01/2022

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Quando se fala em escola cívico-militar, a primeira questão é saber qual seria seu objetivo. Qual seu impacto na sociedade a curto, médio e longo prazo?

Primeiro há que se analisar o modelo sugerido no Brasil. Aqui, pelos índices necessários, considera-se IDEB, IDH e mapa da violência. Ou seja, é coisa destinada a pobre. É política que não se ousaria sugerir para outro estamento social do andar de cima. Só a forma de seleção das instituições já basta para se perceber que algo está errado.

Uma teoria, sem qualquer embasamento científico, parte do pressuposto que havendo “ordem” haverá “progresso” (onde foi que vi isso?). Interessante reportagem no jornal FOLHA DE S. PAULO desmonta essa teoria.

A verdade é que estas ideias conservadoras que sempre aparecem em membros da “parte de cima” da sociedade capitalista, são proto-fascistas, pavimentando um caminho de obediência à autoridade acima da capacidade crítica. Não formam cidadãos de uma nação livre, mas soldados obendientes a autoridade, que pode ser até a de um tirano. Obedecer sem questionar.

Observem os leitores que membros da elite econômica sequer cogitam tal mecânica para a educação de seus filhos, que seguem em boas escolas particulares que fomentam o espírito crítico e de liderança.

A obediência é a regra mãe em escolas militares e, para que isso seja efetivo, fundamental que se estabeleça um boletim não só de notas, mas de comportamento. Não atingido o número necessário na pontuação do comportamento, a exclusão da criança é de rigor. Serve de disciplina e incute terror nas demais.

Só que para estas crianças que serão excluídas, a escola seria o único lugar que a protegeria do convívio com a criminalidade. Expulsas dela, não terão saída. Mesmo que se dirijam a outra escola, chegarão lá já estigmatizadas e continuarão seu processo de exclusão. As demais escolas do entorno que receberão estes alunos expulsos ou que não se adaptam, terão repercussões internas graves motivando mais militarização. Ja perceberam onde isso nos leva.

Já convivemos com uma segregação não institucionalizada, branda e velada, em que bons alunos são matriculados no período da manhã e, os demais, no período da tarde. A política higienista de matrículas por zonas de moradia é outra questão que retira dos pais pobres a escolha da escola para seu filho, coisa que só é dado às classes ricas. Quem vive em periferia verá seus filhos estudar somente na escola da periferia, homogeneizando a educação. Óbvio que por inércia vemos essa massa de estudantes ser amontoada em guetos, com alunos de áreas vulneráveis condenados a estudar apenas com outros de mesma condição social e nos mesmos estabelecimentos.

Uma escola militar, para ensinar os pobres a serem obedientes, tem outro efeito nas comunidades com baixo número de policiais militares: a redução do efetivo nas ruas. E isso que sequer mencionamos o quão pouco pedagógico é para as crianças, e pouco produtivo para os militares, que pessoas treinadas para identificar e prender bandidos se entreguem a controlar escolas e trabalhar com ensino de crianças.

A imagem abaixo mostra uma constrangedora semelhança entre alunos de uma escola cívico militar em Brasília se movimentando na escola, em fila indiana, mãos para trás, e menores na Fundação Casa, se movendo em fila indiana, com as mãos para trás.

Não se trata de melhorar a educação, mas de impor aos estudantes um sistema proto-carcerário.

Vir com essa "novidade" sem consultar o Conselho Municipal de Educação, sem consultar os professores, os educadores, é mais uma forma de imposição de quem não sabe dialogar e está acostumado a ser obedecido. Velhos e novos coronéis.

Trazer esta espécie de educação para São José do Rio Pardo só seria aceitável se os filhos dos políticos envolvidos na medida fossem obrigados a lá estudar. O que, convenhamos, jamais vai acontecer.

*Na imagem abaixo, acima alunos de uma escola cívico militar andam, em fila, com as mãos para trás. Na parte inferior, detentos da Fundação Casa, menores infratores recolhidos, andam dentro da cadeia. Em fila, com as mãos para trás. A imagem fala muito.
 



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