Racismo: a desigualdade que se recusa a desaparecer
17/05/2025
Atribuir novos nomes a antigos problemas é uma prática comum no vocabulário político contemporâneo — especialmente em setores da esquerda, que não raramente também criam novos dilemas acompanhados de novos termos. Entre os conceitos popularizados nesse contexto está o “racismo estrutural”.
Ainda que tenha ganhado força em ambientes ideologicamente marcados, a expressão carrega pertinência. Afinal, até mesmo um relógio quebrado acerta a hora duas vezes ao dia.
Basta observar as imagens divulgadas por escolas particulares ou por grupos sociais que se consideram pertencentes a uma elite para notar: a ausência de pessoas negras é um sintoma evidente. A desigualdade racial é silenciosa, persistente e sistemática.
A baixa presença de negros entre juízes, desembargadores, delegados, promotores de Justiça, médicos, engenheiros, advogados e até padres é reflexo de um sistema social que, mesmo após a abolição da escravatura pela Lei Áurea, jamais se ocupou seriamente da inclusão. Talvez por isso ainda seja mais aceitável socialmente um homem negro ao volante de um ônibus do que no papel de proprietário da frota.
O Brasil aboliu formalmente a escravidão, mas não promoveu uma transição estrutural que corrigisse séculos de marginalização.
A herança dessa omissão se revela hoje em diferentes esferas: nas escolas, nos estádios de futebol, no mercado de trabalho, na política e até na convivência cotidiana.
O que aparece na superfície — piadas, ofensas, exclusões sutis — é apenas a ponta de um iceberg de preconceitos historicamente naturalizados.
A conhecida “cordialidade brasileira” serve, não raro, para camuflar atitudes discriminatórias. Protege quem as pratica, minimiza seus efeitos, constrange as vítimas e, pior, as revitimiza.
A indiferença diante da dor alheia é um dos caminhos mais eficientes para a perpetuação do preconceito.
É particularmente preocupante quando essas práticas partem de instituições e pessoas que deveriam liderar o combate à discriminação. A omissão diante do racismo — seja ele explícito ou velado — não apenas alimenta a desigualdade: ela a legitima.
Reconhecer o racismo estrutural como um problema real é o primeiro passo para enfrentá-lo com seriedade.
E isso exige mais do que boas intenções ou discursos de ocasião.
Exige políticas públicas, educação de qualidade, valorização da diversidade racial e, acima de tudo, a coragem de não silenciar diante da injustiça.
Mesmo as que são aceitas pelos injustiçados.
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