SÃO JOSÉ DO RIO PARDO E REGIÃO – ANO 36



O Reflexo dos Traumas na Construção de Realidades Psicológicas

04/06/2025

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O desequilíbrio emocional é, muitas vezes, o sintoma mais visível de um sofrimento que teve início muito antes de ser notado.

Adultos emocionalmente desregulados, com dificuldades em lidar com frustrações, manter vínculos saudáveis ou tolerar a própria solidão, frequentemente estão carregando as marcas de uma infância vivida em ambientes instáveis, negligentes ou violentos.

Traumas psicológicos nessa fase tão sensível da vida moldam não apenas a forma como sentimos o mundo, mas como passamos a habitá-lo — criando, muitas vezes, realidades internas alternativas como forma de sobrevivência psíquica.

Essas “realidades paralelas” não são delírios no sentido clínico, mas formas adaptativas de se distanciar de uma dor insuportável.

São adultos que vivem presos a narrativas internas construídas para justificar afetos não recebidos, abusos não compreendidos ou abandonos não elaborados.

Carregam crenças profundas sobre si mesmos e o mundo — como “não sou digno de amor” ou “as pessoas sempre vão me machucar” — que operam silenciosamente na base de seus comportamentos, moldando suas escolhas, suas relações e seus limites emocionais.

Sob a ótica de B.F. Skinner, o pai do behaviorismo radical, todo comportamento é aprendido e mantido por suas consequências.

Se, na infância, uma criança aprendeu que expressar emoções resultava em punição ou negligência, ela poderá crescer acreditando que não é seguro sentir ou compartilhar o que sente.

Esse repertório emocional empobrecido será então reforçado ao longo da vida por contingências semelhantes, perpetuando o ciclo.

Skinner também nos lembra que o comportamento não nasce no vácuo — ele é produto do ambiente. Logo, não se trata apenas de olhar para o indivíduo, mas para o contexto em que esse indivíduo foi moldado. Muitos adultos que hoje vivem em constante sofrimento emocional não estão “quebrados”, como às vezes acreditam.

Estão apenas operando com os recursos que aprenderam, num contexto que reforçava a sobrevivência, não o florescimento emocional.

O desafio terapêutico, portanto, é ressignificar essas contingências: ajudar o indivíduo a identificar o que foi aprendido sob sofrimento, compreender a função do comportamento no contexto original e, a partir disso, construir novas formas de viver que não sejam pautadas apenas pela fuga da dor, mas pela aproximação do cuidado, do afeto e da autenticidade.

Enquanto não olharmos com seriedade para a infância — e para o que ela deixa impresso na subjetividade adulta — continuaremos formando pessoas que não apenas vivem na realidade, mas que sobrevivem em mundos internos criados como refúgio.

Mundos esses onde o desequilíbrio emocional é, paradoxalmente, a tentativa de manter algum tipo de equilíbrio frente a um passado que não foi acolhido. 



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