Polêmica: lockdown em São João da Boa Vista gera situação surreal
04/03/2021
Tudo começa com o lockdown decretado em São João da Boa Vista. Impedir empresários e empreendedores de trabalhar é uma medida extrema, de eficácia duvidosa mas de prejuízo social e econômico certo. Ao impedir a atividade econômica, os governos que assim procedem parecem desconhecer a necessidade de subsistência física dos cidadãos, que precisam comer, se vestir, morar. Direitos constitucionais assegurados e vinculados a proteção ao que se chama de dignidade da pessoa humana.
Atenção: quem for ler o presente artigo, o leia integralmente e até o fim. Não foi escrito para leitores de 4 linhas. Aborda tema profundamente importante para toda nossa sociedade e, como temas complexo, exige abordagem igualmente complexa.
Impedir o trabalho, por si só, é algo que deveria ser analisado como violentíssima quebra, ruptura, de direitos constitucionais insculpidos em cláusulas pétreas.
Não satisfeito com uma notável incompetência em lidar com a pandemia, o governo do estado de São Paulo impõe às forças da polícia militar do estado atuar contra o empresariado paulista que, eventualmente, descumpra a regra de lockdown. Outro absurdo que, desde o nascedouro, deixa de resolver o problema da pandemia, por um lado, e gera inúmeros outros, por outro lado.
Se estava ruim, piorou.
A polícia militar, essencial a missão do estado em zelar pela segurança pública e paz social, recebe constante treinamento para enfrentamento à violência e à marginalidade em geral. Não poucas vezes os policiais militares expõe a própria vida a risco, buscando proteger por vezes patrimônio de membros da sociedade. Ainda que a vida do policial militar seja, obviamente, incomparavelmente maior do que qualquer patrimônio. Mas assim é.
O treinamento da polícia militar é eficaz e apropriado. Há policiais que são treinados para situações extremas, de conflito: os batalhões de choque. Outros para questões de trânsito. Tudo isso além do treinamento padrão. A palavra-chave aqui é “treinamento”.
A polícia militar do estado de São Paulo luta por uma excelência de atuação, com equipamentos obsoletos, falta de material humano, de veículos e outras situações adversas que, por si só, justificariam mais do que um artigo inteiro. Mas, em linhas gerais e considerando o material que os policiais militares dispõe para trabalhar, fazem um trabalho digno de elogios. Pontos fora da curva, exceções, existem em todas, repito, todas as áreas. Inclusive na policial militar. Mas, como em outras áreas, não medimos o todo pelas métricas das exceções.
Feita esta análise, uma questão de natureza política merece comento. João Dória (PSDB), ao determinar fechamento do comércio e determinar à polícia militar que se encarregue de coibir a atividade empresarial deveria, só por isso, ter seu impeachment discutido pela ALESP. Todos sabemos que isso não vai acontecer. A ALESP está, politicamente, nas mãos do governo do estado.
Empresários não são bandidos. Não merecem ter a polícia militar no seu encalço.
Polícia Militar não é nem de longe a força do estado apta a lidar com a questão. Atribuir esta missão a polícia militar é desleal por parte do próprio governador!
O palco está pronto: conflitos entre empresários e policiais militares pipocarão por todo o estado. Haverão milhares de abordagens. Destas, obviamente, a esmagadora maioria será branda. Sem dúvida haverá algumas em que, ou empresários ou policiais, se excederão. Em que pese exceções e pontos fora da curva, estas exceções acabam sendo pontuadas pela mídia e difundidas, principalmente, por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens.
Um vídeo, divulgado amplamente por meio de aplicativos de mensagens, em grupos, mostra um policial militar imobilizando um homem (mais tarde soubemos tratar-se de um empresário que estava descumprindo as regras de lockdown) enquanto a esposa do empresário, naturalmente preocupada e claramente tentando defender o marido, a todo tempo tenta soltá-lo da imobilização a que está sendo sujeito.
Natural que a polícia, chamada para interromper uma ilicitude, em eventual resistência do autor da conduta, acabe por imobilizá-lo. Isso faz parte do treinamento e do que se espera de um policial militar.
Mais natural ainda que uma esposa, que entende que o marido esteja sendo preso e imobilizado de forma injusta, o queira defender. Tem aí desde as juras de lealdade do casamento até o instinto natural de preservação de nossa espécie.
Natural, também, que outros policiais militares busquem interromper qualquer intercorrência havida contra uma imobilização feita por irmão de farda.
O que não é natural, não foi natural e nunca será natural é um governador de estado, um líder político, impedir o empresariado, o empreendedor de trabalhar e ainda enviar a polícia militar para o impedir. Essa decisão política está na gênese desta intercorrência e de outras muitas que haverão.
Uma situação de conflito naturalmente gera stress. Naturalmente. Todos, ali, estressados. Absolutamente humano que houvesse algum excesso, de parte a parte. Mais do que esperável: provável.
A polícia militar não recebeu treinamento para atuar como vigilância epidemiológica! Uma lamentável deslealdade do governador do estado atribuir a polícia militar, já esgotada com suas próprias atribuições e que muitas vezes custam vidas dentro de suas fileiras, atuar em questões como estas!
Vítimas de uma política absurda, quase surreal, temos aí algumas vítimas, neste evento. Tanto o policial militar quanto a mulher são vítimas deste governo que mostra-se incapaz de lidar com a pandemia, jogando uma responsabilidade que não cabe nas costas do empresariado paulista e usando uma força policial militar treinada para lidar com a fina flor da marginalidade, com facções criminosas e outras tais,para coibir realização de negócios, compra e venda de produtos, por exemplo.
No evento, no calor dos fatos, um policial militar aparece desferindo um tapa na face da mulher que, de pronto, revida. Isso é o que se vê no vídeo, difundido em redes sociais. O que não se vê, foi tudo o que comentamos acima. Pinçar um único fato em uma cadeia de eventos como esta e manchetar suposta “violência policial” é deslealdade intelectual por parte da imprensa.
Uma situação de conflito como esta gera apreensões. Os policiais não sabem se se enfrentarão alguém armado ou situação tática adversa. Até que tudo esteja esclarecido, não há como o policial avaliar claramente com quem está lidando. O empresário e sua esposa, por outro lado, muito provavelmente jamais haviam passado por situação semelhante. Estavam assutados. Todos, sem exceção, estavam exaltados. Bem verdade, dirão alguns, que o policial miiltar recebe treinamento. Verdade. Mas não treinamento para atuar como vigliância epidemiológica. Até parto policiais militares fazem, às vezes. Lidar com questões como estas, admita-se, está longe de fazer parte do escopo da corporação!
Infelizmente é algo comum neste tosco “novo normal”, em que se tem a impressão que os idiotas da aldeia, munidos de aparelhos de celular, dominam a cena difundindo “informações” de forma torta, incompleta e, por vezes, imoral.
A polícia militar não é inimiga do empresariado. Nunca foi. Como dito neste artigo, por vezes sacrificam a vida de membros de suas fileiras para proteger patrimônio, exatamente, de empresários.
O empresariado não é inimigo da policial militar.
Trata-se de uma simbiose, em que juntos cada parte faz do agrupamento social algo maior e mair seguro.
Tudo isso acaba acontecendo por causa de uma política de saúde pobre, tosca, claudicante, incapaz de produzir efeitos e que distribui responsabilidades e atuações como se apenas reagisse, sem ser capaz de agir, de planejar, de construir uma sociedade.
Se você leu até aqui, concito-o(a) a analisar estes fatos, a pensar, a digerir a informação. A questionar. Sem julgar.
Desejamos tanto ao empresário como à sua esposa que tudo se resolva da forma mais rápida e justa possível. Desejamos aos policiais militares envolvidos que consigam seguir suas carreiras em maiores percalços, por conta deste evento.
Se excesso por parte de policial militar houve, inicialmente à própria corporação cabe analisar e decidir.
Mas não se enganem: responsabilidade por este e outros eventos que ainda devem acontecer quem tem é o governador do estado e toda e qualquer autoridade política que criminalize por qualquer forma a atividade empresarial e ainda use a polícia militar do estado de São Paulo para fins diversos daquele para o qual ela existe e para os quais vem cumprindo tão bem seu papel.
Aos empresários: se forem abordados pela polícia militar, compreenda que estão cumprindo seu papel. Não resista à abordagem e colabore.
DEMOCRATA: um jornal necessário!
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