09/01/2021 - Maria Betânia dos Santos Chaves
Quinta-feira, 24 de dezembro de 2020, Thalia Ferraz (23 anos de idade) foi morta pelo ex-companheiro na frente de seus familiares, entre eles os sobrinhos de 14 e 8 anos, em Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina; Aline Arns (38 anos) foi morta a tiros pelo ex-companheiro, que logo em seguida se suicidou, em Forquilinha (SC); Márcia Lanzane (43 anos) foi empurrada pelo filho durante uma discussão, bateu a cabeça e veio a óbito, no Guarujá (SP); Simone Gomes (41 anos de idade) foi morta a facadas pelo ex-marido, em Passos (MG); Viviane Vieira do Amaral Arronenzi (45 anos de idade) foi morta a facadas pelo ex-marido, nesta véspera de Natal, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na frente das filhas gêmeas de 9 anos e uma de 12 anos de idade. Esses são alguns dos casos de feminicídio de que tive conhecimento e que se deram na véspera deste Natal. Casos que, ao ler os motivos e como se deram, causam perplexidade e indignação, bem como nos obriga a refletir como a violência pode estar mais perto do que imaginamos.
O cotidiano das mulheres no Brasil é marcado pela violência, desde o assédio moral e sexual e estupro, até o caso mais extremo, o feminicídio. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que 1.326 mulheres foram vítimas de feminicídio no ano passado (2019), um crescimento de 7,1% comparado ao ano anterior. Além disso, houve um estupro a cada oito minutos e 89,9% das mulheres foram mortas pelo companheiro ou ex-companheiro. A pesquisa ainda revela que houve um número muito maior de pessoas que presenciaram situações de violência e assédio contra mulheres nos últimos 12 meses.
O sentimento de posse, dominação, perda do controle e soberania sobre as mulheres são alguns dos motivos pelos quais os homens mais matam as mulheres no Brasil.
Um dos nomes supramencionados é de uma juíza de Direito do Estado do Rio de Janeiro, o que nos mostra que o feminicídio pode atingir todas as mulheres, independentemente da escolaridade ou classe social. Porém, de acordo com pesquisas recentes, mulheres com maior escolaridade tendem a procurar menos ajuda e apoio dos órgãos de proteção.
Nem mesmo a presença dos filhos intimidaram a ação de alguns desses agressores. É como se eles não tivessem nenhum pudor em cometer o crime, por não ter mais nada a perder, já que não possui mais o controle daquele “corpo-território”.
Homens que não aceitaram o fim de um relacionamento, homens que ameaçaram antes de cometer o crime, que planejaram o feminicídio, homens que se sentem donos e que se julgam no poder de decisão sobre a vida e a morte da mulher.
Temos que agir e reagir a tanta violência contra as mulheres, não silenciar e apoiar campanhas de conscientização, criação de órgãos e comissões de apoio às mulheres e vítimas de crime dentro das instituições públicas e privadas, criação de políticas públicas de prevenção e combate à violência de gênero.
Vivemos em uma sociedade extremamente patriarcal, conservadora, que ainda acha que a família, mesmo com base na violência, deve ser mantida a todo custo e sofrimento. Mas até quando vamos precisar perder nossas amigas, colegas, irmãs, mães e filhas para reagirmos? Toda vez que uma mulher morre vítima do patriarcado e do machismo, a sociedade toda perde.
Até quando?
Maria Betânia é bióloga, formada na FEUC e foi conselheira tutelar por mais de cinco anos em São José do Rio Pardo. Escreve sobre direitos humanos.
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