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Pesquisadores sugerem nova classificação para COVID-19: febre viral trombótica

29/04/2021

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Passado um ano da pandemia da COVID-19, o coronavírus SARS-CoV-2 ainda é pouco conhecido e alguns dos mecanismos que adota para causar infecção ainda são um mistério para ciência. Agora, um estudo brasileiro feito por uma equipe multidisciplinar — com especialistas em terapia intensiva, cardiologia, hematologia, virologia, patologia, imunologia e biologia molecular —, incluindo pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sugere mudar a classificação da doença para febre viral trombótica.

Recém-publicado na revista científica Memórias da Fiocruz, o grupo de pesquisadores defende que o coronavírus SARS-CoV-2 adote a nova classificação de febre viral trombótica, porque o agente infeccioso atua de forma que favorece a formação de coágulos (também chamados de trombos), que podem obstruir a circulação. Atualmente, a COVID-19 é classificada como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

Agentes causadores da dengue e da febre amarela, por exemplo, prejudicam a coagulação e, para isso, provocam sangramentos nos casos mais graves. Devido a essa evolução do quadro, as duas doenças são consideras febres virais hemorrágicas. No caso da COVID-19, a situação é outra, o que é favorecido, de acordo com os pesquisadores, é a formação de trombos e a hipercoagulação. Caso o argumento da equipe brasileira seja validado, a doença do coronavírus será a primeira infecção classificada como febre viral trombótica.

COVID-19 não é uma doença pulmonar?
Vale lembrar que a COVID-19 é uma doença bastante complexa e apresenta manifestações em diversos órgãos, como o cérebro, o aparelho gastrointestinal e os pulmões, por exemplo. A classificação de febre viral trombótica se soma aos outros agravamentos da doença, já que a infecção afeta a coagulação sanguínea, o que acarreta em elevado risco de morte.

“O comprometimento pulmonar é certamente muito relevante na COVID-19. O que o artigo destaca é que, nos quadros mais graves, de difícil tratamento, com exacerbação inflamatória grande, há coagulopatia”, explica o pesquisador do Laboratório de Inflamação do IOC, Marco Aurélio Martins, para a Agência Fiocruz.

“Não podemos colocar todas as fichas em um único fator nessa doença. Mas não há dúvida de que a trombose ocorre e pode matar. Esse é um ponto inequívoco, que precisa ser observado”, complementa o pesquisador do Laboratório de Imunologia Clínica do IOC e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis, José Mengel.

Esta nova visão sobre os efeitos da COVID-19 pode, potencialmente, mudar procedimentos clínicos. “A resposta inicial ao SARS-CoV-2 foi baseada, principalmente, no que se conhecia de outros coronavírus humanos, que causam doenças respiratórias. Mas podemos fazer um paralelo com a zika, quando um novo vírus da mesma família do dengue surpreendeu a todos com os quadros de microcefalia. Isso mostra que nunca estamos preparados para um novo patógeno e a investigação científica é fundamental para enfrentar esses agravos”, afirma o pesquisador do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, Gonzalo Bello Bentancor

Novas evidências científicas mudam entendimento do coronavírus e o relacionam com casos de trombose
Para chegar à nova classificação de febre viral trombótica, os pesquisadores também revisaram outros estudos sobre o tema já publicados. Feito na Holanda, um levantamento identificou complicações ligadas à formação excessiva de coágulos em 16% dos pacientes internados na UTI, incluindo casos de embolia pulmonar, acidente vascular cerebral e trombose venosa. Na França, o índice passou de 40% em outra pesquisa.

“Em pacientes internados, vemos manifestações trombóticas a despeito da prática clínica usual de tromboprofilaxia [terapia para prevenir a formação de coágulos]. Também há descrição de eventos tromboembólicos após a alta hospitalar, e a formação excessiva de coágulos é observada nas análises histopatológicas em casos de óbito por COVID-19”, comenta o coordenador da UTI do Hospital Pró-Cardíaco e primeiro autor do artigo, Rubens Costa Filho.

Novos exames para identificar a COVID-19
Após verificarem que os casos de coagulação são parte importante da COVID-19, os pesquisadores também sugerem novas formas de detectar a doença, como a tromboelastometria rotacional. Adotado desde a década de 1940, este exame avalia as propriedades viscoelásticas do sangue, ou seja, a interação entre plaquetas, células sanguíneas e fatores de coagulação. Agora, poderia ser mais uma forma de verificar casos da infecção, já que pode detectar a hipercoagulação. “Avaliar os parâmetros de coagulação é, pelo menos, tão importante quanto avaliar os parâmetros respiratórios nos pacientes com COVID-19. A tromboelastometria é um método de diagnóstico antigo e negligenciado, que deveria ser aplicado nestes casos”, completa o chefe do Laboratório de Patologia do IOC e autor do artigo, Marcelo Pelajo Machado.

Formado por uma ampla gama de pesquisadores, estão envolvidos no estudo profissionais das seguintes instituições: Hospital Pró-Cardíaco, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); Faculdade de Medicina de Petrópolis (Unifase); Instituto Nacional do Câncer (Inca); Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná); United Health Group; e Laboratórios de Virologia Comparada e Ambiental, de Aids e Imunologia Molecular, de Inflamação, de Patologia e de Imunofarmacologia, todos da IOC/Fiocruz.

Para conferir o artigo completo sobre a COVID-19 e os possíveis casos de trombose, publicado na revista científica Memórias, use o QR Code abaixo.

Fonte: Agência Fiocruz 

 

*Publicado originalmente na versão impressa de DEMOCRATA, edição 1663 de 17/4/2021, p. 8



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