Consulta com optometristas : perigo à vista
29/04/2021
Uma profissão secundária, que sempre se encarregou pela confecção de lentes corretivas tem passado a usurpar função privativa de médicos e pode comprometer a saúde dos olhos de milhares
Nos últimos anos tem crescido o número de profissionais técnicos, optometristas, que invadem a seara da medicina, praticando atos médicos e até prescrevendo óculos e lentes de contato.
Há um interesse de políticos por trás deste crescente movimento. Afinal, um optometrista que se forma, por exemplo, em menos de um mês (se estudar 4 horas por dia) em um curso à distância, pela internet com custo total inferior a R$ 300 reais, se conseguir operar equipamentos privativos de médicos oftalmologistas como lâmpadas de fenda e outros, pode conseguir com algum nível de acerto prescrever lentes corretoras.
No mais das vezes estes optometristas vem associados à óticas, interessadas em vender óculos e lentes - por certo.
Enquanto que a medicina, por lei, é proibida de associar-se a óticas, exatamente para evitar que vendas sejam “casadas” ou óculos sejam prescritos sem necessidade para os pacientes, óticas e optometristas estão se associando em várias cidades para consultas a preço vil e venda de óculos.
O filão do negócio, exatamente, é a venda de óculos. Daí saí o lucro.
Um médico oftalmologista, que demora por exemplo de 8 a 10 anos em período integral para especializar-se, que tem de manter cursos constantes de aprimoramento e manter equipamento necessário para análise da saúde dos olhos e é obrigado a manter um consultório com equipamentos mínimos e condições de atendimento para a saúde dos pacientes tem - por isso - um certo preço para suas consultas.
Para um optometrista, que só investiu por vezes menos de R$ 300 reais para formar-se e usa máquina cedida por uma ótica, o preço da consulta poder baixíssimo, sem comprometer a estrutura.
Em São José do Rio Pardo, por exemplo, anos atrás uma igreja evangélica trouxe um optometrista para atender em seu templo, com um balcão de óculos já com lentes para serem vendidos. Tudo patrocinado por uma ótica de outra cidade. Não é crível que centenas de pacientes pudessem receber óculos com graus pré-montados, no momento, de forma apropriada.
Optometrista é uma profissão não é regulamentada. Há um projeto de lei no congresso, o número 1.791-A/2007 que dispõe sobre a regulamentação da profissão de optometrista. Esse PL está em tramitação no congresso e, até agora, nenhuma regulamentação legal foi aprovada. Há os “Conselhos Regionais de Optometria” que são, na verdade, associações de optometristas, nem de longe exercendo a função de regulamentação de profissão como o CRM - Conselho Regional de Medicina, autarquia federal.
Sem regulamentação, há desde técnicos optometristas (que se formam em um a dois meses de curso não presencial até a bacharel em optometria, em cursos de quatro anos, também à distância no mais das vezes. De qualquer forma, a realização do curso à distância, em se tratando de saúde humana, não dá indicativos de qualidade profissional. A saúde humana depreende exames físicos em sua grade, o que acontece com estudo da oftalmologia.
Quem já foi a um exame oftalmológico conhece a rotina: o médico pinga nos olhos do paciente um colírio que dilata a pupila. Ministrar medicação, como o colírio, é algo proibido ao optometrista. E essa dilatação da pupila tem uma razão muito específica: o exame do fundo do olho.
O exame do fundo olho permite, em resumo, quatro diagnósticos por parte de um médico oftalmologista:
1. Glaucoma: trata-se da pressão intraocular elevada. Excetuando caso agudo, o glaucoma - como a hipertensão arterial - é assintomático. O paciente não sente nada. Contudo causa perda da visão de forma não só progressiva como irreversível. Quem vai ao oftalmologista todo ano tem essa pressão aferida, o que não é possível ao optometrista.
2. Tumores oculares: Mal que acomete crianças e adultos, os tumores na região ocular exigem atenção precoce. Novamente uma doença silenciosa, que é percebida pelo exame realizado pelo oftalmologista. A reflexão da luz através da pupila dilatada permite
ao medico verificar eventuais massas atípicas na retina. Mesmo estruturas menores são visualizadas, permitindo o início de um tratamento precoce que pode salvar a visão - e a vida - do paciente.
3. Degeneração macular: Nos idosos, é comum que surjam pequenos acúmulos minerais e de líquido na região da mácula. Ela fica na retina e é uma das principais responsáveis pela formação da região. Quando há esse acúmulo na área, surgem manchas e pode até ocorrer a perda da capacidade ocular.
Com o exame de fundo de olho, a retina é analisada com precisão e esses acúmulos são verificados logo no começo. Assim, é possível realizar tratamentos efetivos e ampliar a qualidade de vida.
4. Doenças de outras partes do corpo: hipertensão arterial, diabetes, lúpus, linfoma, ceratocone, uveíte por várias causas, herpes, sífilis e até alguns parasitas que são transportados pela corrente sanguínea, como na toxoplasmose, são detectados pelo oftalmo.
Como não pode ministrar medicamento, como o colírio, alguns optometristas atrevem-se a querer analisar e diagnosticar o fundo de olho, por vezes baixando a luminosidade do consultório (buscando assim induzir dilação da pupila) e praticamente ficando em cima do paciente com um instrumento semelhante ao que se usa nos ouvidos das crianças. A reportagem de DEMOCRATA presenciou esta técnica em consultório de optometrista.
Outra questão pertinente à saúde dos olhos são os óculos. A confecção dos óculos deve atender a vários requisitos, entre eles a distância entre os olhos e outros que são prescritos pelo médico oftalmologista.
Seguir a “receita” para a o fabrico das lentes, adequá-las em armações que mantenham estas lentes alinhadas à visão é uma arte à parte.
Em São José do Rio Pardo a Ótica mais antiga é a Especializada vem há décadas prestando estes serviços. Conta não só com equipamento de ponta como pessoal técnico treinado.
Para quem pensa que o exame de fundo de olho não é necessário, ou que pode ser desprezado, abaixo vão as imagens de um olho saudável e um com retinoplastia hipertensiva avançada. Os sintomas são diminuição da acuidade visual e dor de cabeça, facilmente confundidos com lentes antigas. Somente um médico saberá distinguir a diferença, salvando o olho e, talvez, até a vida do paciente.
Um optometrista receitaria novos óculos. Quando o paciente percebesse, já estaria praticamente cego, sem retorno da visão. Em um oftalmo o problema, detectado no início, permite tratamento e preservar a visão.
É uma enorme diferença.
*Matéria publicada originalmente na versão impressa de DEMOCRATA de número 1663, de 17/4/2021, p.5
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