SÃO JOSÉ DO RIO PARDO E REGIÃO – ANO 36



O eclipse da razão

12/01/2022

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Ciência. Exatamente, o que é ciência? Esta palavra deriva do latim scientia, cujo significado é "conhecimento" ou "saber". Saber é conhecimento, experiência. Algo que foi conhecido, que foi experimentado. A gente sabe o que conhece.

Este saber, experimentado, quando é instituído em método lógico necessário para que o objeto ou fato sob análise, seja conhecido, é a ciência.

Parte desse conhecer é intergeracional. Passado de uma geração a outra no correr da história. Essa parte, entre os esquimós, beduínos, homens da floresta, é mais óbvia e perceptível. O meio em que vivem é muito complexo e experiência para viver ali é fundamental. O conceito é mais diluído em zonas urbanas, mais densas. Mas ainda está lá.

Assim se passaram os saberes no curso da história. O saber necessário à construções, à manufatura de vestuário e bens de consumo… ...por quase toda a história conhecida e registrada da humanidade.

A ciência, como método e de forma institucionalizada nasce na era moderna a partir do iluminismo, para nós do Ocidente. Fim da chamada idade das trevas.

Fatos comprovados, como a forma do planeta, órbitas, posição de estrelas, matemática, geografia, mapas… ...universidades debruçando-se em pesquisar, aprender e a ensinar. Conhecimento profundo, em algumas vertentes. Técnico, em outras. Empírico, em tantas outras.

Tudo isso para chegarmos no presente momento da história, em que as chamadas redes sociais, com destaque para o FACEBOOK, se tornassem imprevisíveis caixas de ressonância de ignorância, de trevas e obscurantismo científico.

Humerco Eco, em célebre frase, disse que a internet (redes sociais) deram voz ao “idiota da aldeia”. Mas o tempo mostrou que foi bem mais do que isso.

A ignorância é o desconhecimento. Ignorar é ruim. Não conhecer. Não saber. Muito ruim. Sob qualquer prisma que se observe.

Mas a desinformação… ...é milhares de vezes pior. “Não saber” só perde para “não saber mas acreditar firmemente que se sabe”.

Quando pessoas que desconhecem elementos (como coronavírus), técnicas científicas (elaboração de vacinas) e até fenômenos sociais (educação formal de crianças e jovens) tornam-se os experts em tais assuntos e passam a decidir os rumos da nação, temos uma sociedade fraca, ruim.

Mas quando desconhecem e substituem qualquer “conhecer” por “opiniões”, inclusive (melhor ainda) se a opinião for de um desconhecido (vi na internet), temos uma sociedade profundamente adoecida.

Quando vemos cabos eleitorais de forças políticas (quaisquer delas. Irrelevante o viés), no mais das vezes (respeitosamente falando) sem qualquer curso técnico ou superior na área em que se arvoram a ser conselheiros em áreas da ciência e do saber, não em um programa televisivo de comédia, mas na vida real, realmente é caso de nos preocuparmos.

Mas não encontrei, na língua portuguesa, uma palavra eloquente ou forte o bastante para expressar o que se sente quando, para uma opinião técnica, científica, se procura os mais ignorantes no assunto. Óbvio, há adjetivos pouco elogiosos que remetem à capacidade cognitiva de quem faz esta escolha, mas isso é uma análise mais de “efeito” do que de “causa”, sociologicamente falando.

Primeiro, para falar sobre saúde pública e vacinação, uma horda de pessoas tão ávidas por dar suas opiniões quanto profunda desconhecedoras do assunto. Orgulhosas de sua ignorância. Que se reúnem em grupos de aplicativos de mensagens para gabar-se de sua própria ignorância sobre os fatos que se debruçam a analisar e para odiar todo e qualquer que saiba ou que, por qualquer razão, ainda que ilógica, que discorde.

Assim contradizem e se opõe a médicos, cientistas e a século de história da vacina e do enfrentamento à pandemias.

Agora, já consolidado o fato social, passam a fazer o mesmo na educação. Contrariando educadores, pesquisadores, cientistas e conhecedores do assunto.

Em comum, todos, tem um discurso esquizofrênico e patológico. Alguns, religiosos, postam sucessivamente mensagens do amor de Cristo e do ódio por qualquer um que discorde da linha política que se escolheu seguir. Ao mesmo tempo que falam de progresso, usam ferramentas talhadas da idade da pedra. Usam calculadoras como martelos ao consertar ábacos. Ofendem, com duras palavras, qualquer um que deles discorde.

E esse xingar, esse ofender, tem origem direta na ignorância, na ausência de lógica ou razão de quem os profere. E os fazem contra tudo e todos, indistintamente. Um pai de família pode ter trabalhado um mês, ganhado salário, sustentado sua família, educado os filhos, comparecido (ou não) a algum serviço religioso de uma profissão de fé qualquer, pagado impostos, enfrentar dificuldades… ...se discorda do todo-poderoso opinador, é “vagabundo”. E por aí vai.

Dias difíceis. Em breve, a seguir como segue, “conhecer” será tipificado no código penal como uma espécie de crime.

 



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