SÃO JOSÉ DO RIO PARDO E REGIÃO – ANO 36



Entrevista com o Bispo Dom Antà´nio Emídio Vilar, da Diocese de São João da Boa Vista

12/03/2021

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DEMOCRATA acompanhou a celebração eucarística no Santuário Paróquia de São Roque, missa das 10, dia 28, domingo passado. Após, o Bispo nos concedeu a entrevista, que segue abaixo

DEMOCRATA: Bispo, observamos o rigor com as regras sanitárias para a celebração, isso chama a tenção.
Bispo: Esse protocolo, que fizemos no início, apresentamos para o Amarildo, prefeito de Vargem que estava representando os prefeitos da região, e ele levou para o Dória e ele disse “se todas as igrejas fizerem assim, nós estamos tranquilos”. Nós sempre buscamos diálogo com as prefeituras. Mesmo agora, veja, a gente até pensa “Poxa, a igreja não precisaria estar fechada em Mogi Guaçu, São João da Boa Vista”, mas a gente obedece. É bom estarmos unidos às autoridades constituídas, para evitar confusão. Aqui (SJRP) está tendo celebração, mas lá não está tendo, nem São João da Boa Vista nem Mogi Guaçu. Por nove dias assim, fechados. Uma realidade que a gente sente, mas a gente obedece. O povo aprendeu também, nesse período sem ter a missa, as transmissões e o pessoal acompanha. Graças a Deus agora toda a diocese tem pastoral de comunicação, em cada paróquia. Antes não tinha, era uma ou outra que tinha. E as transmissões todas acontecem. Até a própria diocese organizou melhor o seu site, a WebTv pelo site, as redes sociais todas. Graças a Deus. O Eduardo, que é daqui de São José, participa e organiza o programa “Nossa Igreja” e estamos com um passo gigante, por causa da pandemia.

DEMOCRATA: Essa mudança na comunicação vai continuar, depois da pandemia?
Bispo: É o “novo normal”, nós tivemos até reunião nesse sentido. O que nós aprendemos articulamos, estruturamos para continuar, com certeza.

DEMOCRATA: O repórter tem uma avó que acompanha todas as missas pela TV, acompanha com atenção. Mas os jovens parecem ser resistentes à fé...
Bispo: Todos nós, a gente vê. O ambiente familiar... ...aqui tem o catecumenato por exemplo... ...os filhos... ...é como plantar semente. Não adianta você querer fruto, como os adultos fazem, os velhinhos ainda mais, dos jovens.
Eu sou Salesiano do Bosco e a paciência que a mãe, o pai os educadores tem que ter com os jovens é de não querer que eles estejam prontos, já. E já pensar como adulto, isso é cabeça de adulto. Jovens precisam de jogos, teatro, de música, de dança, estímulos. Próprios da idade. E, aos poucos você vai percebendo que a mística, a espiritualidade própria do jovem nos ensina muito. Nos questiona até. A gente se renova com os jovens. É uma troca, muito importante. Eu sou salesiano do Bosco, sempre aprendi muito com isso. A Igreja, como São João Paulo Segundo sempre falava, ele foi o grande pastor da juventude, atraiu muito a juventude, ele dizia, quando começou a grande jornada mundial da juventude, os Cardeais todos preocupados: “escuta é impossível, essa juventude é impulsiva, não é fácil. Uma massa de gente, vai perder o controle” e ele disse: “Não! Nós vamos evangelizá-los. Eles vão nos evangelizar”. Olha que coragem falar isso, para os Cardeais. Depois a gente vai entendendo que uma jornada mundial da juventude começa no grupo, ela vai na paróquia, a diocese que organiza ou o caminho neocatecumenal. E de repente, quando vai lá, já houve uma preparação, o caminho. Lá é a celebração da juventude católica, da fina flor da igreja no mundo inteiro. Então o Papa vive uma celebração, um verdadeiro pentecostes e a juventude. É o que a gente faz nas jornadas diocesanas da juventude, como a gente olhar para essa juventude que não vai a uma missa, ainda mais nesse período, de pandemia, mas eles vão nos grupos, com os amigos, e ali eles se abastecem. Aí a gente vê como celebrar. E agente vê e aprende com eles a arte de celebrar uma missa, a mesma de sempre, mas com essa situação nova.

DEMOCRATA: Qual foi a primeira vez que o Sr. sentiu o chamado para a fé?
Bispo: Olha, primeiro eu venho de Guardinha (distrito de São Sebastião do Paraíso), meu avô cuidava de tudo na igreja, e minhas tias faziam as rezas, os terços, diariamente. Então, era interessante que esse ambiente me favoreceu. Depois meus pais mudaram para Batatais, e lá eu era Coroinha, participava da cruzada eucarística. Lá havia escola vocacional das Salesianas, havia o Colégio Auxiliadora de Batatais e vinham os Salesianos, todo mês. E aí faziam os encontros, também. E foi ali, vendo os Salesianos, brincando com as crianças, passando filminhos, jogos, etc, a gente se atraiu mais pelo lúdico. E, é claro, entrei com 11 anos no seminário. Fiz um ano, com 10 anos de idade, escola vocacional. Meu irmão já estava no seminário com 11 anos. Claro que com 10 anos, 11 anos não é coisa de adulto. Você tem tudo ali no seminário, esporte, teatro música, trabalha na roça, você tema liturgia, celebrações, você tem muito estudo. Realidade própria de um seminário, com 200 seminaristas com os Salesianos que me fez crescer. E, depois, com 18 anos, tinha feito noviciado, fiz a profissão religiosa. Já são 45 anos. Hoje estou com 63 anos. Então, um passo após o outro. E cada passo, são novos desafios e agente aprende novas coisas, novas realidades.

DEMOCRATA: haviam 14 anos que o Santuário Paróquia de São Roque não recebiam visitas do Bispo. O sr já veio três vezes. Essa proximidade com as paróquias é uma tônica em seu pastorado?
Bispo: Desde que eu cheguei em 2016 a gente vai conversando com o Clero, vendo as realidades. Crisma, todo ano, nas paróquias. Depois a gente vai nas celebrações que cada lugar tem, consagração religiosas, ordenação sacerdotal, festas de padroeiros, e algumas outras reuniões, encontros que a diocese propõe, as paróquias, as foranias. Então a gente procura colocar na agenda o que é possível. A presença é de pastorear, de acompanhar, de supervisionar. Por que tem responsáveis em todas as paróquias, pastorais, mas a gente se faz presente. É importante a presença da gente para chancelar tudo isso. A visita pastoral, são 80 paróquias. Estamos fazendo neste molde 20 por ano. Então, vindo aqui a gente tem todo o material da pastoral, administrativo, os livros. Antes da visita. Quando chega é mais pra celebrar, conversar, visitar as pessoas, as comunidades, os grupos que o pároco acha oportuno o Bispo conhecer. Dom Davi só conseguiu fazer visitas pastorais no começo de Bispo dele, depois ele ficou doente, ficou difícil. A gente chegou com saúde e disposição, é claro: é só cumprir a missão da gente.

DEMOCRATA: Até hoje tem o ditado popular: “vai reclamar com o bispo”. Essa coisa de reclamar com o Bispo, ainda existe?
Bispo: A gente é uma grande família. Eu vejo marido e mulher, tem que conversar as coisas ali pra não vazar pros filhos, se der uma divisão não vai ter moral com o filho, o filho acaba querendo mandar em tudo ali. Assim também dentro da igreja, a unidade com o Papa e com o Bispo se realiza nos detalhes. Os párocos, por exemplo, a gente vai conhecendo cada vez mais, partilhando as vidas deles, as ordenações pastorais. Quando vem leigo falar alguma coisa, a gente tem que ouvir, orientar. As transferências, vem o “reclama com o bispo”, não querem perder o padre, desenvolveram afeto. Mas a igreja tem uma missão, precisa continuar novas missões. As transferências tem sua importância, seu valor. Eu, como Salesiano, fui transferido várias vezes. E a cada passo a gente cresce, e as comunidades crescem. Se ficasse na mesmice, parado lá, certamente eu estaria lá ainda hoje.

DEMOCRATA: faz parte do ato de fé se submeter a autoridade da igreja, A fé é sentido de que aquelas decisões virão para o bem da comunidade.
Bispo: Jesus disse: não fostes vós que me escolhestes, eu que vos escolhi e enviei. Então, quando fui nomeado Bispo saí do centro de São Paulo e fui para o Mato Grosso. Após 8 anos, acostumado lá, fui transferido para São João da Boa Vista. E a gente diz “sim” a toda hora. “Aqui estou, envia-me”, porque é assim que a gente vai sentir a ação de Deus manifestando. SE a gente ficasse fechado, com as ideias da gente, os projetos da gente, Deus fica reduzido, né? Com a mesmice da gente.

DEMOCRATA: O Sr. é um homem maduro mas mantém a cabeça jovem. Qual o segredo?
Bispo: Eu falei, eu sou Salesiano de Dom Bosto e o que eu mais gosto é de ser questionado, instigado, provocado pelos jovens. Veja os filhos, né? Se os pais quiserem fazer a cabeça deles eles vão ficar na cabeça dos pais mas não serão eles mesmos. Então, cada jovem é um jovem, cada grupo é um grupo. Eu fiquei 24 anos na formação salesiana e cada ano era uma nova realidade. E quantas coisas a gente aprendia passando a regra de vida salesiana, as orientações das diretrizes da igreja, seguindo o evangelho. A gente vê que eles tem discernimento, mesmo eles recebendo orientação, as diretrizes da igreja eles dão do que é deles também. Nos questionam de nossas incoerências, nos questionam de passos que deveriam ser dados e às vezes não são. Então eu gosto de estar no meio de jovens, eles gostam a presença da gente, eles querem a igreja presença, se fortalecem, se animam e até vocações surgem. E a gente sabe a importância de não ficar fechado em igreja de sacristia, a igreja em saída que o Papa Francisco Fala. Onde os jovens precisam, Dom Bosco estava lá. São João Bosco. O pai e mestre dos jovens. Como salesiano eu devo aprender a estar sempre no meio dos jovens. Para nós a presença, estar no meio dos jovens é o 8º sacramento. Então é isso que me rejuvenesce. Se eu tiver 100 anos, quero estar no meio dos jovens. Tem um Salesiano com 107 anos que viveu na guerra, Ladislau Cliniski, foi meu confessor no seminário. Ele contava as atrocidades da guerra. E saiu o livro “A um passo da morte”, porque ele esteve em bombardeios, perseguições e demais situações da guerra. E está lá, em São Paulo ainda hoje, com 107 anos, atende os jovens, as pessoas que o procuram em confissão, gosta de ir no páteo do colégio Salesiano Santa Terezinha, em São Paulo, bairro Santana, no meio dos jovens lá no pátio. E ele gosta, é isso que o rejuvenesce. Com 107 anos.

DEMOCRATA: temos uma comunidade católica vibrante em São José do Rio Pardo. Sua mensagem para essa comunidade.
Bispo: eu gostaria de deixar para todos nessa visita pastoral, como diocese, essas diretrizes da juventude, da família e dos pobres, que é a opção que a igreja tem feito nos seus sínodos, toda animação não só do Papa Francisco como do Papa Bento e São João Paulo Segundo. Então, que esses momentos a gente priorize a juventude, procure priorizar a família, evangelizando. Realmente a menina dos olhos da igreja é a igreja doméstica, a família. E o pobre, né? Porque desde o início da igreja temos que ter um olhar especial para os que mais necessitam. Não esperar dar do que sobra mas partilhar, para que eles se sintam amados e fortalecidos porque eles tem muitos dons também e a gente pode aprender com eles. Então, que seja aí em comunhão da igreja particular da diocese de São João da Boa Vista estas metas, quero compartilhar aqui uma bênção a todos que vão ler o jornal e vão acompanhar, de alguma maneira, essa mensagem.  



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