SÃO JOSÉ DO RIO PARDO E REGIÃO – ANO 36



Deus acima do voto de todos

12/07/2021

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Na democracia grega reinavam as cidades-estado. Ali se desenvolvia a semente da democracia, onde cidadãos eram ouvidos para, juntos, tratarem da administração da cidade e do bem comum. Buscava-se a felicidade, o conhecimento como bem maior.


Na Idade Média, ainda com cidades fortalecidas mas cercada de feudos ligados a um reinado, em que um sistema de castas e de hierarquia dentro delas trazia a vontade do rei como central, rivalizando com a vontade do clero – de Deus diziam. Buscava-se obedecer a vontade dos senhores, e estes do rei, e aos sacerdotes, esperando-se assim um lugar no céu no porvir.


No pós Revolução Francesa vimos o fortalecimento dos estados, com freios e contrapesos para conter os reconhecidos, já à época, impulsos de abuso de poder a que cada homem, dele revestido, tende a praticar. A ideia de república e de democracia evoluíram, e foram divididas em três poderes soberanos, o executivo, o legislativo e o judiciário. Interessante que já se sabia, à época, o que no Brasil atual se ignora: qualquer homem abusa do exercício do poder sem limites.
Por isso é fundamental – e sempre defendemos isso – impor com urgência limites aos poderes absolutos de que gozam hoje promotores de Justiça e magistrados.
Nessa era pós Revolução Francesa, algumas questões merecem aqui comento, na transformação da sociedade e do mundo. A fundação dos Estados Unidos foi, sem dúvida, um marco.


Os fundadores da nação, vindo de notável perseguição religiosa na Europa, decidiram criar um estado separado da religião, de tal forma que sequer menção a Deus existe em sua constituição. Firmes, criaram as bases de um estado laico, em que qualquer um poderia exercer sua fé sem restrições que não a lei civil e penal a todos igualmente impostas.


Já sabiam que misturar fé e Estado era algo pernóstico e, invariavelmente, a autoridade religiosa acabaria por impor perseguição a credos não alinhados ou a qualquer cidadão não seguidor.


Séculos, séculos atrás, estes conceitos já eram conhecidos. Praticados.


O estado moderno, como o estadunidense, buscava valores como liberdade e igualdade acima de todos. E funcionou por bons tempos, dentro do que se propunha.


Bem verdade que viu excessos, como a Itália fascista ou a Alemanha nazista que, infelizmente, ainda inspiram autoridades e pessoas mundo afora. Até os que acreditam na necessidade de esterilizar compulsoriamente mulheres pobres e em situação de risco social. Mas em linhas gerais a ideia de laicidade foi evoluindo.
A oposição – óbvio – ficou por conta de extremistas religiosos.


Vimos em primeiro momento os extremistas muçulmanos invadirem a Europa, impondo o exercício de sua fé em espaços públicos, atentando contra a ideia de laicidade do Estado. Em segundo momento, pegaram em armas. Talibã, Al-Qaeda foram meros reflexos deste movimento maior.


Como não poderia deixar de ser, o extremismo muçulmano culminou em pequenas guerras, algumas ainda em andamento.


Eis que vão se cultivando, vão se formando espaços ocupados por extremistas cristãos. No Brasil os chamados evangélicos, um ramo recente do Cristianismo, entendeu que deveria se imiscuir no exercício do poder temporal e misturar fé e política.


Tudo isso já aconteceu antes. Sempre com resultados catastróficos. Sempre aprendemos nos bancos escolares que o estudo da História serviria para não cometermos os mesmos erros do passado.


Mas isso não é real no Brasil de 2021.


O mandatário do poder, eleito por vontade popular, sabe que seu poder é efêmero. Sabe que a opinião pública pode tolher-lhe esse poder. Especialmente em um governo presidencialista.


Sabe que o exercício do poder durará quatro anos, e que prestará contas à sociedade e às instituições. Sabe que seu poder é limitado pelas leis, pelo tempo e pela opinião pública. Não é como um promotor de Justiça, que no Brasil de hoje tem poder absoluto, somente respondendo por abusos a seus próprios pares, no mais das vezes dotados de uma compaixão ao julgar os seus que não se vê nas acusações aos cidadãos. Enquanto que um promotor, ou juiz, que abuse do poder é aposentado e recebe seus salários pelo resto da vida, às expensas do imposto que os cidadãos pagam, os presidentes sabem que para se eleger devem gozar de boa imagem junto ao povo do país. Isso muda muita coisa.


Agora, vamos dizer que por exercício de retórica, um grupo extremista religioso acredite que a vontade de seu deus seja superior às leis e contrapesos da república. E que eles mesmos sejam os responsáveis por receber e interpretar a vontade de seu deus. Digamos mais. Digamos que seu deus lhes diga (ou pelo menos assim disseram eles) que devem eliminar homossexuais; pessoas não alinhadas à sua fé ou ao exercício do poder temporal que agora gozam; que o deus deles lhes ordene que eliminem – por exemplo – esquerdistas. Ou que o presidente que apoiam não foi eleito pelo povo em regras democráticas, mas posto ali pela vontade do deus deles que – como mencionado alhures – somente eles podem ouvir e interpretar.


A vontade do deus deles está acima da vontade de todos: “deus acima (do voto) de todos”. Um deus cuja vontade é apresentada somente aos seus líderes, a quem cumpre informá-la aos acólitos que as seguem, cegamente.


Basta ver na História como isso termina. 



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