A educação como projeto de família
23/04/2025
No Brasil, a questão educacional costuma ser atribuída exclusivamente às escolas, aos professores e às políticas públicas. Contudo, adotar essa visão restrita é negligenciar o papel central que cabe às famílias no processo formativo dos cidadãos. Sem o engajamento paterno e materno — ou, em sentido amplo, do grupo familiar —, qualquer iniciativa governamental ou institucional estará fadada a resultados parciais e, muitas vezes, inócuos.
Quando falamos em “educação” no cotidiano, tendemos a associá-la ao domínio de conteúdos acadêmicos: matemática, química, literatura. No entanto, o verdadeiro escopo educativo vai muito além das disciplinas formais. Ele engloba:
Urbanidade: atitudes respeitosas no trânsito, cordialidade em filas, cuidado com o espaço público;
Respeito ao próximo: compreensão das diferenças, empatia e solidariedade;
Visão estética: apreço pela beleza na arquitetura, na arte, no entorno comunitário;
Tolerância à diversidade: aceitação legítima de crenças, opiniões e estilos de vida distintos.
Esses elementos formam a base da convivência harmoniosa em centros urbanos e rurais, pois determinam a qualidade das relações humanas e o senso de pertencimento coletivo.
É inegável que o Brasil enfrenta déficits em vários indicadores educacionais — índices de alfabetização, qualidade do ensino, evasão escolar. Contudo, sobressai um problema ainda mais profundo: a carência de hábitos e valores que moldam o comportamento cidadão. Vemos:
Lixo descartado em locais impróprios;
Desrespeito a pessoas em situação de vulnerabilidade;
Conflitos gerados pela incapacidade de ouvir opiniões divergentes;
Crescente indiferença às manifestações culturais locais.
Tudo isso pode ser sintetizado em uma única palavra: falta de educação — não no sentido técnico-curricular, mas no que tange à postura individual e coletiva.
Se a educação de qualidade não se restringe ao ambiente escolar, fica claro que o lar é o primeiro espaço de socialização e internalização de valores. É ali que a criança aprende:
A saudar com respeito e afeto;
A compartilhar e a colaborar;
A resolver pequenos conflitos por meio do diálogo;
A valorizar a cultura local e a história de seus antepassados.
Sem a prática dessas lições domésticas, todo o aparato de bibliotecas, laboratórios e salas de aula torna-se insuficiente para moldar o caráter e a ética do indivíduo.
Portanto, não se trata de diminuir o investimento governamental em educação formal, que é fundamental, mas de reconhecer que a responsabilidade primária recai sobre cada família.
A transformação social que almejamos — com ruas limpas, relações harmoniosas e respeito mútuo — nasce no interior de cada lar. Não adianta, portanto, depositar todas as esperanças em reformas e verbas públicas sem, simultaneamente, investir no projeto familiar de educação.
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