135 anos da entrega da Rosa de Ouro à Princesa Isabel pelo Papa Leão XIII
13/05/2025
Neste 13 de maio, o Brasil rememora um dos marcos mais simbólicos de sua história: a abolição da escravidão em território nacional, concretizada pela assinatura da Lei Áurea em 1888.
A data, além de celebrar o fim formal do cativeiro, carrega consigo gestos históricos de profundo significado moral e espiritual — entre eles, a concessão da Rosa de Ouro à Princesa Isabel pelo Papa Leão XIII.
Missa de entrega da Rosa de Ouro à Princesa do Brasil
A comenda papal foi entregue como reconhecimento do papel decisivo da Regente do Império na libertação dos últimos escravizados do país. A honraria, que representa uma das mais elevadas distinções pontifícias, foi conferida durante missa solene celebrada na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no Rio de Janeiro, em setembro de 1888.
a carta do Papa Leão XIII foi matéria na imprensa da época
A cerimônia contou com a presença do Imperador Dom Pedro II, da Imperatriz Dona Teresa Cristina, do Conde d’Eu — esposo da Princesa —, de ministros do gabinete João Alfredo e de outras autoridades civis e eclesiásticas. A missa foi presidida por Dom Pedro Maria de Lacerda, então Bispo do Rio de Janeiro.
A Rosa de Ouro foi enviada pelo Papa como homenagem ao gesto histórico da Princesa Isabel e chegou ao Brasil em 28 de setembro de 1888 — data escolhida em alusão aos 17 anos da promulgação da Lei do Ventre Livre, também durante uma regência da Princesa.
Antes mesmo da concessão da Rosa de Ouro, o Papa Leão XIII havia se posicionado publicamente em apoio ao movimento abolicionista. Em declaração à imprensa brasileira, afirmou:
“A escravidão está condenada pela Igreja e já devia há muito tempo ter acabado. O homem não pode ser escravo do homem. Todos são igualmente filhos de Deus”.
A seguir, transcreve-se, na íntegra, a carta enviada pelo Papa Leão XIII à Princesa Imperial do Brasil, datada de 29 de maio de 1888, que acompanhou a Rosa de Ouro:
Carta de Sua Santidade o Papa Leão XIII à Princesa Isabel
Leão XIII, Papa
À muita amada em Cristo Filha Nossa, Saúde e Benção Apostólica.
As preclaras virtudes que adornam Tua pessoa e as brilhantes demonstrações de singular dedicação que Nos deste a Nós e a esta Sé Apostólica, pareceu-nos merecer sem dúvida um testemunho particular e insigne de Nosso Apreço e paternal afeto para contigo.
Para te apresentarmos porém esse testemunho, nenhuma oportunidade mais favorável podia dar-se, conforme entendemos, do que a atual. Com efeito, novo esplendor acaba de realçar ainda mais os Teus louvores por ocasião da Lei que aí foi recentemente decretada e por Tua Alteza Imperial sancionada, relativa àqueles que, achando-se nesse Império Brasileiro, sujeitos à condição servil, adquiriram em virtude da mesma lei a dignidade e os direitos de homens livres.
Assim, pois, muito amada em Cristo Filha Nossa, Nós te enviamos de mimo a Rosa de Ouro que, ao pé do altar, consagramos com a prece apostólica e os demais ritos sagrados, consoante a usança antiga de Nossos Predecessores.
Por esta razão investimos do caráter de Nosso Delegado Apostólico ao amado Filho Francisco Spolverini, Nosso Prelado Doméstico e Protonotário Apostólico, que exerce as funções de Internúncio e de Enviado extraordinário Nosso e desta Santa Sé, junto ao muito amado em Cristo Filho Nosso Pedro II, Imperador do Brasil, e na ausência dele junto à Tua Alteza Imperial, com o fim de levar-Te a referida Rosa e de exercer o honrosíssimo ministério de fazer-Te a tradição dela, observando as sagradas cerimônias do estilo.
Nesse mimo, porém, que Te ofertamos, é desejo Nosso que Tua Alteza Imperial não olhe para o preço do objeto e seu valor, mas atenda aos mais sagrados mistérios por ele significados. Assim é que nessa flor e no esplendor do ouro se manifesta Jesus Cristo e sua suprema Majestade. É Ele que se denomina a flor do campo e o lírio dos vales. Na fragrância da mesma flor se exibe um símbolo do bom odor de Cristo, que ao longe reascendem todos os que cuidadosamente imitam as Suas virtudes.
Daí é impossível que o aspecto deste mimo não inflame cada vez mais o Teu zelo em respeitar a religião e em trilhar a vereda árdua, sim, mas esplêndida da virtude.
No entanto, implorando toda a sorte de prosperidades e venturas para Ti, e todo o Império Brasileiro, muito afetuosamente no Senhor outorgamos a Benção Apostólica a Ti, muito amada em Cristo Filha Nossa, e à Tua Imperial Família.
Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o anel do Pescador, no dia 29 de maio do ano de 1888, IIº no Nosso Pontificado.
O gesto da Santa Sé reforça o caráter humanitário e espiritual do ato que pôs fim à escravidão legal no Brasil. Mais do que um símbolo de fé, a Rosa de Ouro à Princesa Isabel permanece, ainda hoje, como tributo à justiça, à dignidade humana e à coragem moral de romper com séculos de opressão institucionalizada.
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